

ONU critica sistema de ajuda estabelecido por Israel em Gaza após entrega que deixou 47 feridos
O diretor de uma agência da ONU criticou nesta quarta-feira (28) um novo sistema de distribuição de ajuda em Gaza implementado por Israel, depois que 47 pessoas ficaram feridas na terça-feira durante uma entrega caótica de auxílio.
A questão da distribuição de ajuda para este território palestino, que enfrenta uma crise humanitária sem precedentes após 600 dias de guerra, ganhou relevância depois que a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma organização de origem opaca, que tem o apoio dos Estados Unidos, se instalou na região.
Sem perspectivas para o fim do conflito que começou com o ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, para os palestinos de Gaza há pouca esperança de um futuro melhor.
"Passaram 600 dias e nada mudou. A morte continua e os bombardeios israelenses não param", disse Bassam Dalul, de 40 anos.
A família de Dalul, que foi deslocada 20 vezes desde o início do conflito, sobrevive apesar da escassez de tudo, de água potável até medicamentos e energia elétrica.
"Até esperar por um cessar-fogo parece um sonho e um pesadelo", contou.
Ajith Sunghay, diretor do Escritório de Direitos Humanos da ONU nos Territórios Palestinos, informou que 47 pessoas ficaram feridas na terça-feira quando uma multidão desesperada avançou na direção de um centro de ajuda da GHF em Rafah.
"A maioria dos feridos foi resultado de disparos" israelenses, acrescentou.
O Exército de Israel negou nesta quarta-feira ter atirado contra a multidão durante a entrega de ajuda.
A ONU e várias ONGs se recusaram a participar nas operações da GHF. Philippe Lazzarini, diretor da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), reiterou suas críticas à fundação.
"Acredito que é um desperdício de recursos e uma distração das atrocidades. Já contamos com um sistema de distribuição de ajuda adequado para este fim", declarou durante uma visita ao Japão.
- A angústia das famílias dos reféns -
A população palestina continua sob bombardeios e a Defesa Civil da Faixa de Gaza relatou 16 mortes nesta quarta-feira em ataques aéreos.
"Dezesseis pessoas morreram em consequência dos bombardeios israelenses sobre a Faixa de Gaza desde o amanhecer", declarou à AFP Mahmud Bassal, porta-voz da agência palestina.
Entre as vítimas estavam nove pessoas da família do repórter cinematográfico Osama al-Arbid, que morreram em um ataque contra sua residência na área de Al-Saftawi, norte de Gaza.
Heba Jabr, 29 anos, dorme em uma barraca no sul de Gaza com seu marido e os dois filhos. Ela luta todos os dias para encontrar comida.
"Morrer nos bombardeios é muito melhor do que morrer pela humilhação da fome e de não poder dar pão e água a seus filhos", disse à AFP.
Israel rompeu em meados de março uma trégua de dois meses no conflito contra o Hamas e retomou sua ofensiva sobre o território controlado pelo movimento islamista palestino.
Em 17 de maio, o país intensificou suas operações com o objetivo declarado de eliminar o Hamas, libertar os reféns israelenses ainda em cativeiro e tomar o controle do território.
A guerra começou com o ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, que resultou nas mortes de 1.218 pessoas do lado israelense, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.
A ofensiva militar de Israel em Gaza deixou mais 54.000 mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território, considerados confiáveis pela ONU.
Os milicianos islamistas também sequestraram 251 pessoas no ataque de outubro de 2023. Do grupo, 57 permanecem em cativeiro na Faixa, mas 34 são consideradas mortas, segundo as autoridades israelenses.
Em Israel, grupos de manifestantes se posicionaram nas principais estradas e rodovias de Tel Aviv às 6h29 locais, para marcar o horário exato do início do ataque do Hamas.
A imprensa israelense recorda os "600 dias" desde o início do conflito, com manchetes sobre o sofrimento das famílias dos reféns.
O.Ratchford--NG