

Veto de Trump a vistos para alunos estrangeiros gera angústia em Harvard
O anúncio de Donald Trump de suspender a concessão de novos vistos para estudar em Harvard tem gerado medo e indignação entre seus estudantes estrangeiros, que se sentem em um limbo em meio ao fogo cruzado entre o presidente e a universidade.
O galês-dinamarquês Alfred Williamson, que está no segundo ano de física e políticas públicas na prestigiada universidade, se "agarra à esperança de que Harvard vencerá esta luta e poderá voltar no próximo semestre".
Um juiz suspendeu uma tentativa anterior do republicano de retirar a habilitação da universidade para matricular estudantes internacionais, que no ano letivo recém-encerrado representaram 27% do corpo discente.
"O governo Trump faz todo o possível para esmagar esses sonhos", disse Williamson, de 20 anos, à AFP sobre a decisão mais recente do presidente, que alegou que "a conduta de Harvard a tornou um destino inadequado para estudantes e pesquisadores estrangeiros" e ameaçou revogar os vistos dos alunos internacionais já matriculados.
"Isso é mais uma demonstração autoritária de abuso de poder do governo, que pune estudantes internacionais por frequentarem uma universidade que se recusa a se curvar diante da administração", acrescentou Williamson, que passa as férias fora dos Estados Unidos.
O estudante considera que a batalha de Trump contra Harvard se deve ao fato de que a universidade tem "a integridade de enfrentar suas exigências ilegais e antiamericanas".
Harvard se tornou o principal alvo da campanha do presidente americano contra as principais universidades do país, às quais ele acusa de antissemitismo por permitir manifestações pró-palestina em seus campi e de impor políticas de diversidade, inclusão e igualdade (DEI).
O governo congelou cerca de 3,2 bilhões de dólares (R$ 17,9 bilhões) em subsídios federais e contratos com esta integrante da Ivy League, que reúne as universidades mais prestigiadas do país, e a excluiu de futuros auxílios, além de ameaçar anular suas isenções fiscais.
Harvard não respondeu ao pedido de comentário, mas na quarta-feira classificou a mais recente medida de Trump como "retaliação".
Um estudante indiano da Harvard Kennedy School of Government, que preferiu não revelar seu nome por medo de represálias, disse que "sabíamos que seria um verão longo", mas que "ainda não recebemos nada de Harvard", o que "não é surpreendente, embora seja preocupante".
- Será possível voltar? -
Embora a medida afete potenciais novos estudantes, os alunos que já estudam na universidade mais antiga do país, localizada em Cambridge, perto de Boston (nordeste), não sabem se poderão voltar depois das férias de verão.
"O que acontece com os estudantes que voltaram para casa durante o verão? Existe o risco de que não consigam voltar", especula outro estudante, que também preferiu não se identificar por medo de represálias e que está tentando renovar seu visto.
Muitos especialistas afirmam que Harvard enfrentará inevitavelmente um novo embate legal.
"Prevemos que a Universidade de Harvard tomará medidas legais semelhantes [a outras decisões anteriores do governo] apresentando uma ação em um tribunal federal e buscando uma medida cautelar para bloquear temporariamente a aplicação da medida", comentou a advogada de imigração Laura Devine Khensani Mathebula.
"Paralelamente, a universidade terá de agir rapidamente em nível administrativo para explorar opções para sua população estudantil internacional", acrescentou.
Para Olivia Data, estudante americana do quarto ano do curso de políticas públicas em Harvard e amiga de muitos estudantes estrangeiros, a "notícia é devastadora e aterrorizante".
"Nossos amigos e colegas de classe estão sendo usados como garantia na busca pelo poder de um ditador, e nenhum de nós sabe onde isso acabará ou se nossa universidade pode proteger seus estudantes no atual sistema político", afirmou.
L.Bohannon--NG